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Países BRIC estão cansados da retórica do G20.

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Alan Beattie.

Se existe um cliché repetido no mar de banalidades que jorra sobre a tremenda importância do G20, é de que o agrupamento proporciona aos grandes mercados emergentes o seu há muito aguardado assento na mesa. É por isso um pouco perturbador que a Índia, um dos mais importantes desses governos, dissesse que esta conversa de mesa é marcada mais pela discórdia estéril do que por um debate construtivo. É ainda mais perturbador que o Brasil se prepare para deixar vazio o seu lugar Altos funcionários do governo de Manmohan Singh disseram esta semana ao Financial Times que o G20 se encontra em “sérias dificuldades”, sem acordo sobre o diagnóstico. Guido Mantega, ministro da Fazenda do Brasil, o homem que teve a coragem de chamar uma guerra cambial uma guerra das moedas, decidiu mesmo não participar na reunião desta semana dos ministros e governadores dos bancos centrais na Coréia do Sul. E na quarta-feira, Ali Babacan, o vice-primeiro ministro da Turquia, acrescentou as suas próprias preocupações de que as posições adoptadas pelo agrupamento estavam a afundar-se para o menor denominador comum. Brasília insiste que o Sr. Mantegna irá acompanhar o seu patrão, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente, na cimeira dos chefes de governo em meados de Novembro. Mas mostrar tão pouca fé durante a fase de planeamento não inspira confiança no acontecimento principal. Se o G20 está realmente a perder credibilidade perante o Brasil e a Índia, então está em sérios apuros. Como disse um funcionário do Departamento do Tesouro dos EUA: “As autoridades brasileiras e indianas são aquelas … que mais têm a ganhar com o G20, e têm sido os seus maiores defensores” A dimensão da Índia, e o seu desejo de ser um contrapeso à China no mundo em desenvolvimento torna este agrupamento um veículo natural para Nova Delhi prosseguir a sua política. O Brasil, tendo saltado de uma espíral de morte de falência soberana há menos de uma década, tem combinado uma política macroeconómica ortodoxa com a diminuição da pobreza para se tornar um dos mais emergentes mercados emergentes. Um aspirante a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, um negociador duro e determinado nas negociações sobre o comércio mundial e as alterações climáticas, o Brasil é um parceiro essencial na maioria das conversações globais sérias. Se um forum não consegue convencer o Brasil que é credível, então vai ter muitas dificuldades em convencer quem quer que seja. Cada vez mais, a história do G20 começa a parecer-se com a Ronda de Doha sobre as negociações de comércio e devem existir poucas comparações mais insultuosas. Ambos foram lançados no rescaldo das crises de deslocação. A Agenda de Desenvolvimento de Doha, para citar o seu título completo, começou no rescaldo dos ataques de 11 de Setembro de 2001. O G20 começou como um agrupamento de ministros das finanças após a crise financeira asiática de 19979-1998 e tornou-se um assunto de chefes de governo após o colapso de 2008 da Lehman Brothers. Ambos eram supostos enfrentar as necessidades dos mercados emergentes na economia mundial e tinham o Brasil e a Índia como participantes do núcleo central das negociações. Mas ambos criaram expectativas exageradas sobre o seu impacto potencial. Aqueles que, como Gordon Brown, o ex-primeiro ministro britânico, fizeram carreira exagerando o potencial de Doha para impulsionar o crescimento e diminuir a pobreza, limitaram-se a adaptar essa retórica para o G20, sugerindo que se anunciava uma nova era de cooperação internacional. Mas o que os países fizeram, reduziram a credibilidade do que eles disseram. Declarações repetidas de todos os lados de que Doha estava à beira de um acordo foram desmentidas pela procura ao mesmo tempo de acordos de comércio bilaterais, principalmente pelos EUA e a União Europeia. Do mesmo modo, o recente recurso a acções unilaterais por uma série de mercados emergentes – Brasil, Tailândia, Indonésia – para suster a valorização da moeda, demonstra uma falta de confiança que o processo multilateral pode induzir a China a aumentar a flexibilidade da taxa de câmbio. O problema de Doha e do G20 é que eles foram lançados com uma ideia geral sobre o que eles queriam ser mas com uma visão escondida sobre o que queriam fazer e uma evidente falta de consenso sobre como lá chegar. Nenhum conseguiu colmatar as grandes diferenças de opinião, quer sobre como o comércio pode ajudar a diminuir a pobreza ou a importância da flexibilidade da taxa de câmbio para reduzir os desequilíbrios globais. Quando foi posto à prova, a espuma da retórica de cooperação esfumou-se e o que resta é um edifício muito menos impressionante.

Alan Beattie é editor de comercio mundial do Finantial Times.

Artigo tirado de O Diario o 27/10/2010.


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